Nesse período de quarentena tem aumentado o número de famílias preocupadas com a saúde de seus filhos, tanto física como psicológica. Vamos conversar um pouco sobre ganho de peso, atividade física e uso de telas neste período atípico pelo qual estamos passando!
Como o isolamento afeta os pequenos e suas famílias?
A quarentena traz consequências negativas não apenas às crianças, mas também à sua família. O distanciamento social favorece:
- O sedentarismo, pois temos evitado academias, parques e áreas de lazer;
- O aumento do consumo de alimentos enlatados (ricos em sódio) e processados (maior validade), pois o consumo de alimentos frescos requer mais idas ao mercado;
- O aumento expressivo da utilização das telas e dispositivos digitais, pois são ferramentas que permitem “entreter” crianças e adolescentes;
- O agravamento ou surgimento de questões emocionais, pois modifica consideravelmente o comportamento individual e familiar;
Além disso, em muitos lares, foi difícil aceitar que o momento não é de férias e sim de uma situação de crise, na qual as atividades cotidianas e a rotina de horários deveriam ser mantidas. Como consequência de tudo isso, houve um prejuízo geral da saúde física e mental das famílias, aumentando consequentemente o risco de obesidade infantil.
A obesidade infantil altera o psicológico das crianças?
Sabemos que, em crianças e adolescentes, a obesidade se associa a um maior risco de ansiedade e depressão. Sendo assim, elas merecem uma atenção especial dos pais para o acolhimento emocional e a melhora comportamental para hábitos saudáveis.
Confira algumas dicas para minimizar esse quadro:
- Converse sempre com os seus filhos, deixando-os expressarem suas dúvidas e medos;
- Busque formas de conciliar os cuidados dele com a escola/trabalho;
- Organize as mudanças necessárias em conjunto com a família, de forma a beneficiar a casa toda.
Como posso ajustar a alimentação do meu filho?
A alimentação é uma das principais formas de melhorar os hábitos, em especial para um bom crescimento e desenvolvimento. Preste atenção nessas orientações:
- Priorize a variedade de alimentos e a diminuição das quantidades;
- Sempre que puder, faça refeições em família e sem distrações (tablet, TV, brinquedos, etc);
- Monte um prato mais colorido e atrativo para as crianças (que inclua legumes e verduras, algum desenho/formato ou história associada);
- Não ofereça besteiras nos lanches e espaços entre as refeições principais;
- Tenha cuidado com a quantidade de suco oferecido, incluindo os naturais, pois eles têm muita caloria e pouca fibra;
- Limite a oferta de refeições prontas e de alimentos industrializados (sucos em pó e em caixa, batata frita, refrigerante, biscoitos, sorvetes), pois são ricos em calorias vazias, açúcar, sódio e gordura trans.
Qual a importância dos exercícios para a criança?
A prática de atividade física é uma necessidade na prevenção da obesidade infantil. Os benefícios das atividades físicas na criança são inúmeros, como a prevenção/tratamento de doenças crônicas, e os efeitos benéficos no sistema imunológico (sistema de defesa do corpo), com importante ação anti-inflamatória. Contudo, é preciso estar atento ao tempo de duração e, especialmente, à intensidade da atividade, pois são fatores que modificam essa relação. Atividades de intensidade moderada aumentam as defesas do organismo, ao passo que exercícios muito intensos podem causar imunossupressão (prejuízo dessa defesa). A sugestão é que a atividade física seja regular e de intensidade moderada, com duração entre 30 e 60 minutos por sessão.
Veja algumas dicas:
- Mantenha, estimule e participe de atividades físicas dentro de casa (pular corda, dançar, limpar a casa, etc.), e em ambientes seguros ao ar livre (por exemplo, casas com quintais), em um ou mais horários do dia;
- Lembre-se que o uso de máscaras em atividades aeróbicas como corridas, jogar futebol/basquete e andar de bicicleta requer um período de adaptação ao novo modo de respirar “dentro da máscara”, mas é indispensável à segurança;
- Acesse as mídias digitais para procurar atividades físicas virtuais como jogos interativos, danças e aulas aeróbicas de acordo com a faixa etária dos seus filhos;
- Compartilhe as atividades domésticas com os seus filhos. Isso pode aumentar o nível de atividade física, além de auxiliar na conquista de autonomia/responsabilidade social e no estreitamento dos laços familiares.
Como o uso excessivo de telas pode prejudicar as crianças?
Por mais desafiador que seja, é muito importante estabelecer limites para uso de telas (celular, tv, tablet, computador, videogame) pelas crianças. O uso excessivo estimula o comportamento sedentário e interfere na qualidade e comportamento do sono, o que são fatores de alto impacto no risco da obesidade infantil. Além disso, pode causar atraso no desenvolvimento da fala e da linguagem em bebês que ficam passivamente expostos às telas por períodos prolongados.
Saiba quais são as recomendações atuais sobre o tempo que a criança pode utilizar telas:
- Menores de 2 anos: evitar exposição;
- Crianças entre 2 e 5 anos: limitar o tempo de telas ao máximo de 1 hora/dia, sempre com supervisão de pais/cuidadores/ responsáveis;
- Crianças entre 6 e 10 anos, limitar o tempo de telas ao máximo de 1-2 horas/dia, sempre com supervisão de pais/responsáveis;
- Adolescentes entre 11 e 18 anos, limitar o tempo de telas e jogos de videogames a 2-3 horas/dia, e nunca deixar “virar a noite” jogando.
- Para todas as idades: não utilizar telas durante as refeições, desconectar de 1 a 2 horas antes de dormir, estimular o uso nos locais comuns da casa, não permitir que as crianças e adolescentes fiquem isolados nos quartos com televisão, computador, tablet, celular, smartphones ou com uso de webcam.
Nesse período de crise é muito importante estarmos atentos à saúde integral de nossas crianças e suas famílias. Se você tiver dúvidas de como prevenir ou tratar a obesidade infantil, não deixe de consultar o endocrinologista infantil.
Referências:
- Manuais de Orientação da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria) sobre “Promoção da Atividade Física na Infância e Adolescência” (julho/2017) e “Saúde de Crianças e Adolescentes na Era Digital” (#menos telas #mais saúde – dez/2019).
- Guia para uma Alimentação Saudável em Tempos de COVID-19 (Asbran – Associação Brasileira de Nutrição).
- Notas de Alerta da SBP sobre “Como possibilitar que crianças e adolescentes pratiquem atividades físicas com segurança pós-quarentena da COVID-19?” e “Obesidade em crianças e adolescentes e COVID-19”